Hoje de manhã fui à venda para
comprar uma amizade.
Pedi que fosse de mais ou menos
10 anos e que tivesse um amor platônico envolvido nisso.
O vendedor me perguntou que tipo
de amizade eu queria: Se era de infância, de colégio, faculdade ou de bairro. Não
soube o que responder, só queria uma amizade mesmo.
Quando olhei para a prateleira e
vi aqueles lindos olhos redondos, com um ar de piedade, pensei: “Hummm
interessante, serei o centro das atenções”. Olhei para o outro lado e vi aquele
corpo friamente esculpido, do jeito que o diabo gosta, pensei: “Amizade
colorida é legal, sem compromisso, só com interesse físico”. Olhei para o outro
e não vi nada que me agradasse, pensei: “júuura que coisa sem sal…”.
Foi uma luta. Comecei a pensar
nos prós e nos contras.
Por piedade, acho que não iria
funcionar. Ia ser algo muito monótono. Choros na hora dos desabafos, ligações
pós frustrações, visitas inesperadas, finais de semana “perdidos” em meio aos
“programas de índio”, passeios com a mesma temática de sempre, conversas pra lá
de egocêntricas… Ser o centro das atenções?? Não vai ser legal, é muita
responsabilidade.
Sem compromisso, é uma coisa
muito relativa. Há aquela certa prepotência de um chamar o outro: “vâmos agora?
Tô com vontade!!”, daí um sai de onde está, para de fazer o que está fazendo
pra sair correndo por um simples encontro sem compromisso. Se é sem
compromisso, pra quê sair correndo?? Tá atrasado pra algum compromisso???. Sair
na balada e não estar juntinho, agarrado com a pessoa do seu lado, aproveitando
cada segundo da noite. Ver, ou saber, que a pessoa está “ficando” com outras
pessoas e mesmo assim não se importar??? Isso não existe!! Não poder ir a um
restaurante com um ar mais romântico, não fazer planos para o futuro com essa
pessoa. Amizade colorida é desgastantee acabamos por magoar as pessoas ou
acabar se magoando. Do jeito que o diabo gosta?? Não vai ser legal, eu é quem
tenho que gostar.
Olha ali quem sobrou!!! A amizade
“sem sal”… O que que me acrescentará isso?!?! Não terei assunto, não terão
conversas construtivas, não terão sorrisos, olhares, abraços, carinhos… Não
terá?? Amizade é como comida. No começo, conhecemos a receita, vemos o
igredientes e enquanto “preparamos” vamos acrescentando o sal, o tempero, o
toque especial. É assim que a amizade fica gostosa, com um gostinho de quero
mais.
É assim que esperaremos
ansiosamente que a pessoa ligue para chorar e desabafar, que nos visite, que
nos convide pra fazermos um programa de índio e, sem titubiar, vamos bem faceiros
e depois contamos pra todo mundo rindo das nossas babaquices. Esperamos
ansiosamente que a pessoa nos convide mais uma vez pra fazer sempre as mesmas
coisas, porque sabemos que sempre será diferente. Esperamos ansiosamente que
essa pessoa fale um monte de si, para que nós a conheçamos melhor, e após isso
começamos a falar só de nós, para que ela nos conheça melhor. Dessa maneira,
nos tornamos o centro das atenções e faremos dela o centro de nossas atenções.
E no processo de conhecimento
pode ser que aconteça o momento “Vamos agora, tô com vontade”, mas isso não
necessariamente acontece. Há muito mais coisas entre o Céu e a Terra do que os
homens possam imaginar. A vontade não vem assim de repente. Você não falará
isso pra “qualquer” amigo. Quando isso acontece é porque há uma intenção de
compromisso e de alguém que possa sair correndo pra te atender (não só as
necessidades sexuais, mas também as pessoais). Quando é que você se vê entrando
em uma balada com uma pessoa se não quando você quer estar com ela todo momento
possível?? Quando é que você vai poder
ver uma pessoa perto da outra sem sentir um pinguinho de ciúmes se não quando
você ama?? Quando é que você vai poder fazer planos românticos e fazer planos
futuros se não quando a amizade colorida vira relacionamento??
E no processo desse
amadurecimento dos nossos sentimentos que vemos que o relacionamento tem por
base a amizade, e que apenas o corpo ser “do jeito que o diabo gosta” não é
suficiente para sermos felizes.
Ainda bem que na vida não temos
“amizades” para vender em bares e vendinhas nas esquinas. Amizade se conquista,
se cozinha, se tempera. Amizade surge de lugares onde menos esperamos. Aquela
pessoa que “sobrou” ali no cantinho da prateleira da vida pode ser a pessoa que
vai te fazer o mais feliz possível, basta você saber cultivar, reconhecer os
igredientes, cozinhar e temperar bem. É quase como uma receita, mas sem ter que
se preocupar com porções, só se preocupando para não “queimar” ou passar do
ponto.
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